Hoje adentraram em mim várias reminiscências a respeito da minha infância. Tive-a, com certeza, igualzinha às demais. Um ponto interessante são as paixõezinhas surgidas por uma brincadeira que costumávamos, eu e meus coleguinhas, fazer às escondidas. Era o “cai no poço”, onde todos ficavam enfileirados e sentadinhos, enquanto ia um para frente destes que sentados estavam e, outro ia por trás e lhe tapava os olhos, fazendo as célebres perguntas até a escolha opcional: pera, uva, maçã ou salada mista? Todos escolhiam salada mista, que nada mais era que o designativo do beijo na boca. Lembro-me uma vez ter beijado uma menina mais velha e pense, não é que me apaixonei? Noutro dia não parava de pensar nela: ai a Luana, já a amo; até que deu novamente a hora do cai no poço, isso aproximadamente às sete e meia da noite, e eu a esperando me escolher dentre os que sentados estavam, pensando que nela também se guardava algum sentimento do pretérito beijo. Mas eis que ela beijou outro menino e todo aquele sentimento desmoronou num despeito que guardei no peito, naquele coração vermelhinho no formato duma bunda que aparece nos desenhos animados, já que assim é simbolizado o coração, talvez na tentativa de embelezá-lo em contraste com seu formato real cheio de tubos. Nada poderia fazer. Brincadeira é brincadeira. É o lúdico na infância.
Quando pela manhã de hoje, um sábado qualquer, surgiu-me outra lembrança da minha infância. Ela transbordou quando vi um questionário que estava sendo feito no jornal, e a pergunta feita era a seguinte: o que você acha do aumento salarial em 30% dos deputados? Aí vi um adolescente a dá sua opinião e imediatamente aparecendo sua identificação abaixo da telinha: Roberto Júnior-estudante. Seria ele realmente estudante, ou seria onanista? Eis aí o ofício da minha infância e das dos demais jovens. Quem nunca praticou onanismo não teve infância. Tive e tenho um amigo, cujo nome prefiro resguardar sigilosamente, garantindo assim a legalidade cível, que trabalhava com essa mesma arte, a do conhecer-se a si mesmo, não como queria Sócrates, mas como queria o desejo carnal. Quando à praia íamos, ficava simplesmente de olho nas bundas e biquínis, sobretudo naqueles todo enfiado. Mas a parte que ele mais gostava era quando as benditas sentavam para pegar sol (não sei como elas conseguiam pegá-lo, sempre achava que o sol era quem as pegava). E lá ficava ele a gravar na memória aquelas nádegas bronzeadas, aquelas saliências proeminentemente aguçadas entre as pernas meio-abertas, dando asas à imaginação. E sempre me dizia ele: hoje irei homenagear aquela bem ali de biquíni azul. E perguntava-o: homenageá-la como? No qual ele respondia: deixa que só eu sei. Não sabendo ele que tava eu fazendo-me de desentendido, pois no fundo sabia qual homenagem era aquela. Sinceramente, se ele fosse o estudante entrevistado durante os questionamentos sobre o aumento salarial dos deputados, logo abaixo na sua identificação haveria o seguinte: Cicrano da Silva-bronheiro.
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