“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

domingo, 13 de fevereiro de 2011

POEMA FEITO À MEIA-NOITE

Ó céu putrefato de um governo omisso,
quantas mortes serão precisas para te conscientizares
de que a unidade calca o disperso?
Qual o índice de criminalidade que irá ensejar-te
a quebra dos antagonismos e a ascensão do pobre, economicamente?
O pobre é mais pobre (pauperização agora é arte). O rico é mais rico, e
somente um lado da balança pesa significativamente.
O achatamento é assíduo em todos os sentidos, e somente
quem sabe dizer tolices faz arte.
Vivemos num paradoxo político.
Nossa vida não nos pertence, e o que
era biônico ontem é biônico hoje,
no Pacote não de Abril, mas de Janeiro a Dezembro.
Mesmo assim tenho que vestir as vestes opacas do Estado,
de chorar lágrimas de crocodilo,
de fofocar sobre a ascensão de mais uma oligarquia,
de ouvir menos Rachimaninov e curtir mais a tal Folia,
e o mais cruel de tudo: resignar-me com a soberania do veredicto.
Vivo vinte e quatro horas e o que aprendo? Que o viver não interessa,
mas tão-somente o existir.
Aprendo que tenho que trabalhar mais, trabalhar até
morrer para sustentar as prerrogativas de um ambicioso,
para preencher a lacuna das alíquotas.
Meu sonho já não é mais o de chegar onde quero,
mas sim o da necessidade de nunca passar fome,
o da preocupação de como me “virarei” amanhã,
a perguntar-me intensamente: como conseguirei dinheiro?

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