Ó céu putrefato de um governo omisso,
quantas mortes serão precisas para te conscientizares
de que a unidade calca o disperso?
Qual o índice de criminalidade que irá ensejar-te
a quebra dos antagonismos e a ascensão do pobre, economicamente?
O pobre é mais pobre (pauperização agora é arte). O rico é mais rico, e
somente um lado da balança pesa significativamente.
O achatamento é assíduo em todos os sentidos, e somente
quem sabe dizer tolices faz arte.
Vivemos num paradoxo político.
Nossa vida não nos pertence, e o que
era biônico ontem é biônico hoje,
no Pacote não de Abril, mas de Janeiro a Dezembro.
Mesmo assim tenho que vestir as vestes opacas do Estado,
de chorar lágrimas de crocodilo,
de fofocar sobre a ascensão de mais uma oligarquia,
de ouvir menos Rachimaninov e curtir mais a tal Folia,
e o mais cruel de tudo: resignar-me com a soberania do veredicto.
Vivo vinte e quatro horas e o que aprendo? Que o viver não interessa,
mas tão-somente o existir.
Aprendo que tenho que trabalhar mais, trabalhar até
morrer para sustentar as prerrogativas de um ambicioso,
para preencher a lacuna das alíquotas.
Meu sonho já não é mais o de chegar onde quero,
mas sim o da necessidade de nunca passar fome,
o da preocupação de como me “virarei” amanhã,
a perguntar-me intensamente: como conseguirei dinheiro?
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