O tempo está em chamas, totalmente consumido pelo tedioso ornamento da onomatopeia em tique-taque, evaporando-se nas putrefatas matérias de milhares de cadáveres clandestinos, por aí à deriva de toda a substância, de todas as responsabilidades do desespero-fraqueza kierkegaardiano. Ainda há quem não veja o retumbar insolente de tudo que já foi ensinado, da ciência que se fez edificada. Mesmo quando não me convém, irei elucidar o que se deixa elucidar-se, irei chorar no meu próprio funeral, irei cuspir onde os olhos não alcançam, irei amarrar os ossos à fome mundial. Irei fazer tudo isso sem me ater a escapulários, a rosários, a procissões, a promessas. Se for pra cair, quedar-me-mei no cinza das minhas borradas pinturas, sem o belo arco-íris das demais vidas, sem a conta bancária que enseja as máscaras risonhas. Para alguns resta somente a reza, para outros a oração. Para mim resta a consolação de saber que há algo após meu findar, algo melhor que tudo isso, algo que não se move no respaldo estereótipo, algo que não chora por não ter que sorrir.
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