“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

quarta-feira, 6 de março de 2013

CAPITALISMO, TRABALHO ALIENADO E RESISTÊNCIAS

por Anderson Costa


Uma das maiores preocupações mundiais, pelos menos pseudo-teoricamente falando, diz respeito à degradação pelo qual vem passando o planeta, daí originando-se a nomenclatura da vez, o vocábulo mais falado do século XXI: sustentabilidade. Mas tudo isso, toda essa degradação ambiental e afim, fora e ainda é ensejada pelo avanço exacerbado do Capitalismo, voraz e desenfreado, irrefutável e destruidor, com o escopo “benévolo” da globalização, da economia, do setor privado e do neoliberalismo.

Todavia, não há como falar em Capitalismo e suas nuanças sem antes não falar em trabalho, tanto braçal quanto tecnológico, já que qualquer uma de suas formas e espécies funciona como alicerce do sistema econômico em questão e vigente, o Capitalismo. Ora, para quê serve o trabalho senão para produzir riquezas, robustecer ainda mais o corpo capitalista e alienar o trabalhador ao produzir em demasia objetos estranhos e alheios a si mesmo? É o que Marx asseverara ao dizer que, “quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza. Ocorre então a alienação, já que todo trabalho é alienado, na medida em que se manifesta como produção de um objeto que é alheio ao sujeito criador”.
Sem sombras de dúvidas, o Capitalismo extirpa do homem a sua força de trabalho e sua “liberdade” em prol, sobretudo, da propriedade privada, já que fora demonstrado por Marx que “a propriedade privada constituiu o resultado do trabalho alienado. Com o desenvolvimento da propriedade privada, desvenda-se o seu segredo, para saber, de um lado, que ela é o produto do trabalho alienado e, por outro, que ela é o meio pelo qual o trabalho se aliena, a realização da alienação.”

Mas, além da alienação oriunda do trabalho, outro fator preponderantemente imposto por um dos produtos capitalistas, a globalização, diz respeito à quebra e até mesmo a destruição de tradições e identidades culturais, como a destruição de muitas comunidades e afins, como a expansão de obras urbanas em detrimento do ruralismo, como a mecanização de atividades agrícolas, antes desempenhadas por grupos já com identidades consubstanciadas, porém quebradas com êxodo rural, assimilando identidades alheias e legitimadas, todas com o foco precípuo do “progresso” e da “globalização”. Mas, que progresso é esse que hegemoniza unilateralmente as identidades, legitimando-as? Eis aí o motivo preconizador das resistências, mais precisamente falando, das identidades de resistências, como é claramente exposta no filme de Eliane Caffé, “Os narradores de Javé”, aonde a identidade legitimada vem com força total, tentando sobrepujar com esmagadora violência e através de lemas progressistas as demais identidades corporificadas nas comunidades, sendo a maioria rural, haja vista um mundo regido pelo “modus vivendi” (identidade legitimadora).  Daí há o surgir dos movimentos urbanos, como identidades de resistências que são, às exarcebações do capitalismo, estatismo e informacionalismo. Daí a resistência dos moradores de Javé, subsidiados por sua cultura e história, por suas fontes de significados e experiências, por um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, subsidiados, mormente, por sua identidade local, já que as “identidades por sua vez constituem fontes de significados para os próprios atores, por eles originadas, e construídas por um processo de individuação.” (CASTELLS, p. 21)

Portanto, vê-se aí o papel devastador do Capitalismo, tanto no que concerne à alienação dos homens através do trabalho, quanto através da imposição da identidade legitimada através dos pressupostos tecnológicos do progresso e da globalização. Mas a pergunta continua sendo a mesma: “quem realmente sai ganhando com tudo isso, os que detêm suas identidades devastadas ou os que usufruem da devastação das identidades alheias? Quem se beneficia mais, os que são devorados pela globalização ou os que se acham necessitar da destruição da identidade cultural alheia para ter luz, notebooks, Tv’s e afins em suas residências, respaldados pela teoria da informatização tecnológico-global?

Fica aí em xeque os princípios alicerçadores do Capitalismo, onde o legitimado detém prerrogativas à revelia de qualquer empecilho que venha de encontro aos seus interesses. E a resistência, essa deve resistir até onde puder. 



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