Uma
das maiores preocupações mundiais, pelos menos pseudo-teoricamente falando, diz
respeito à degradação pelo qual vem passando o planeta, daí originando-se a
nomenclatura da vez, o vocábulo mais falado do século XXI: sustentabilidade.
Mas tudo isso, toda essa degradação ambiental e afim, fora e ainda é ensejada
pelo avanço exacerbado do Capitalismo, voraz e desenfreado, irrefutável e
destruidor, com o escopo “benévolo” da globalização, da economia, do setor
privado e do neoliberalismo.
Todavia,
não há como falar em Capitalismo e suas nuanças sem antes não falar em
trabalho, tanto braçal quanto tecnológico, já que qualquer uma de suas formas e
espécies funciona como alicerce do sistema econômico em questão e vigente, o
Capitalismo. Ora, para quê serve o trabalho senão para produzir riquezas,
robustecer ainda mais o corpo capitalista e alienar o trabalhador ao produzir
em demasia objetos estranhos e alheios a si mesmo? É o que Marx asseverara ao
dizer que, “quanto mais o mundo das coisas aumenta de
valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza. Ocorre então a alienação, já que
todo trabalho é alienado, na medida em que se manifesta como produção de um
objeto que é alheio ao sujeito criador”.
Sem sombras de dúvidas,
o Capitalismo extirpa do homem a sua força de trabalho e sua “liberdade” em
prol, sobretudo, da propriedade privada, já que fora demonstrado por Marx que “a
propriedade privada constituiu o resultado do trabalho alienado. Com o
desenvolvimento da propriedade privada, desvenda-se o seu segredo, para saber,
de um lado, que ela é o produto do trabalho alienado e, por outro, que ela é o
meio pelo qual o trabalho se aliena, a realização da alienação.”
Mas, além da alienação oriunda
do trabalho, outro fator preponderantemente imposto por um dos produtos
capitalistas, a globalização, diz respeito à quebra e até mesmo a destruição de
tradições e identidades culturais, como a destruição de muitas comunidades e
afins, como a expansão de obras urbanas em detrimento do ruralismo, como a
mecanização de atividades agrícolas, antes desempenhadas por grupos já com
identidades consubstanciadas, porém quebradas com êxodo rural, assimilando
identidades alheias e legitimadas, todas com o foco precípuo do “progresso” e
da “globalização”. Mas, que progresso é esse que hegemoniza unilateralmente as
identidades, legitimando-as? Eis aí o motivo preconizador das resistências,
mais precisamente falando, das identidades de resistências, como é claramente exposta
no filme de Eliane Caffé, “Os narradores de Javé”, aonde a identidade
legitimada vem com força total, tentando sobrepujar com esmagadora violência e
através de lemas progressistas as demais identidades corporificadas nas
comunidades, sendo a maioria rural, haja vista um mundo regido pelo “modus vivendi” (identidade
legitimadora). Daí há o surgir dos
movimentos urbanos, como identidades de resistências que são, às exarcebações
do capitalismo, estatismo e informacionalismo. Daí a resistência dos moradores
de Javé, subsidiados por sua cultura e história, por suas fontes de
significados e experiências, por um conjunto de atributos culturais
inter-relacionados, subsidiados, mormente, por sua identidade local, já que as “identidades
por sua vez constituem fontes de significados para os próprios atores, por eles
originadas, e construídas por um processo de individuação.” (CASTELLS, p. 21)
Portanto, vê-se aí o papel
devastador do Capitalismo, tanto no que concerne à alienação dos homens através
do trabalho, quanto através da imposição da identidade legitimada através dos
pressupostos tecnológicos do progresso e da globalização. Mas a pergunta
continua sendo a mesma: “quem realmente
sai ganhando com tudo isso, os que detêm suas identidades devastadas ou os que
usufruem da devastação das identidades alheias? Quem se beneficia mais, os que
são devorados pela globalização ou os que se acham necessitar da destruição da
identidade cultural alheia para ter luz, notebooks, Tv’s e afins em suas
residências, respaldados pela teoria da informatização tecnológico-global?
Fica aí em xeque os princípios
alicerçadores do Capitalismo, onde o legitimado detém prerrogativas à revelia
de qualquer empecilho que venha de encontro aos seus interesses. E a
resistência, essa deve resistir até onde puder.
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