“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

MERCADO CENTRAL

Tem um lugarzinho aqui perto de onde moro temporariamente, aqui perto da Travessa do Portinho – Centro 128, chamado de Mercado Central, um tipo de supermercado do povão, entendeu? Sei que deve ter alguém se perguntando: e os outros supermercados, não são do povão também? Talvez sim, talvez não. A particularidade do Mercado Central é essa. Qual? Ele é de fato do povão, e quando falo em povão falo de quem não é burguês, já que estes efetuam suas compras nos centros-climatizados-capitalisados.  Achas leitor que, se o Mercado Central fosse frequentado por burgueses, estaria nessa situação que estar, em plena decadência no que tange à edificação, à estrutura? Não! Mas deixemos isso de lado.
Uma das coisas que mais gosto é de, ao acordar, dirigir-me para lá (pro Mercado Central) para tomar aquele caldo de ovos. Quem aí gosta de caldo de ovos? Quem gosta de tomá-lo no São Luís Shopping, no Jaracati Shopping, se o tem? Não interessa, prefiro no Mercado Central, sobretudo devido à companhia que sempre encontro por lá. Chego lá aproximadamente às 09:30 e peço um caldo de ovos. Nesse ínterim chegam outros clientes, sendo eles operários, homens que carregam as compras alheias nos carros-de-mão no custo de dois reais, sacoleiros, vendedores ambulantes, enfim, operários que dão duro no trampo o dia inteiro para ganharem um quê de desvalorização trabalhística, sem o conhecimento do que seja a mais-valia. Nem imaginam eles o quanto gosto de suas companhias, de suas simplicidades educacionais. Mas, voltando ao caldo de ovos. Quando chegam esses clientes supracitados a perguntarem o que tem para comer, eis que o dono do pequeno restaurante responde: tem mocotó, panelada, sururu no leite de coco e caldo de ovos. Pelo o que vejo o prato preferido dos meus irmãos- humildes-trabalhadores é o mocotó, não o “mocotó” dos meus outros irmãos-burgueses-shoppinganos, que preferem um Mc Feliz. Mas o que mais me faz gostar do local onde tomo o caldo como café da manhã é a loja de ração ao lado. Pense, tomando um caldinho e sentindo um cheirinho de ração de cachorro. É divino! Quem não sabe apreciar tal cena e tal faro não é digno de ler um Rimbaud, ou de ver um Van Gogh, ou de ouvir a segunda de Mahler. É uma arte, simplesmente. Imaginem só o ar de simplicidade com um quê de rústico que isso proporciona. Quem me dera soubesse retratá-lo.
Se um dia realizar meu sonho e sei que irei realizá-lo, o de ser um Senador da República, nunca deixarei, prometo, de tomar o caldo de ovos do Mercado Central, a não ser quando não puder, mas sempre que tiver disponibilidade estarei lá. Caros eleitores, se um dia votares em mim e quiseres reivindicar, passe no Mercado Central pela manhã que lá me encontrarás a tomar um caldinho. Irei ouvir-lhes com toda certeza.
Para finalizar quero dedicar alguns abraços: abraços aos companheiros de café da manhã, meus companheiros de trabalho pesado no foco do sustento familiar. Abraços aos meus irmãos que somente buscam o que comer e o lugar onde morarem.  Um gigantesco beijo à minha mãe amada por ter me levado quando pequeno ao Mercado Central e por me ensinar que a simplicidade é o alicerce da vida. E um grande beijo ao meu pai por sempre pagar, quando peço, um caldo de ovos na rodoviária de Bacabal, quando volto, com direito a rima, a vivenciar o que é alhures da capital.

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