Tem um lugarzinho aqui perto de onde moro temporariamente, aqui perto da Travessa do Portinho – Centro 128, chamado de Mercado Central, um tipo de supermercado do povão, entendeu? Sei que deve ter alguém se perguntando: e os outros supermercados, não são do povão também? Talvez sim, talvez não. A particularidade do Mercado Central é essa. Qual? Ele é de fato do povão, e quando falo em povão falo de quem não é burguês, já que estes efetuam suas compras nos centros-climatizados-capitalisados. Achas leitor que, se o Mercado Central fosse frequentado por burgueses, estaria nessa situação que estar, em plena decadência no que tange à edificação, à estrutura? Não! Mas deixemos isso de lado.
Uma das coisas que mais gosto é de, ao acordar, dirigir-me para lá (pro Mercado Central) para tomar aquele caldo de ovos. Quem aí gosta de caldo de ovos? Quem gosta de tomá-lo no São Luís Shopping, no Jaracati Shopping, se o tem? Não interessa, prefiro no Mercado Central, sobretudo devido à companhia que sempre encontro por lá. Chego lá aproximadamente às 09:30 e peço um caldo de ovos. Nesse ínterim chegam outros clientes, sendo eles operários, homens que carregam as compras alheias nos carros-de-mão no custo de dois reais, sacoleiros, vendedores ambulantes, enfim, operários que dão duro no trampo o dia inteiro para ganharem um quê de desvalorização trabalhística, sem o conhecimento do que seja a mais-valia. Nem imaginam eles o quanto gosto de suas companhias, de suas simplicidades educacionais. Mas, voltando ao caldo de ovos. Quando chegam esses clientes supracitados a perguntarem o que tem para comer, eis que o dono do pequeno restaurante responde: tem mocotó, panelada, sururu no leite de coco e caldo de ovos. Pelo o que vejo o prato preferido dos meus irmãos- humildes-trabalhadores é o mocotó, não o “mocotó” dos meus outros irmãos-burgueses-shoppinganos, que preferem um Mc Feliz. Mas o que mais me faz gostar do local onde tomo o caldo como café da manhã é a loja de ração ao lado. Pense, tomando um caldinho e sentindo um cheirinho de ração de cachorro. É divino! Quem não sabe apreciar tal cena e tal faro não é digno de ler um Rimbaud, ou de ver um Van Gogh, ou de ouvir a segunda de Mahler. É uma arte, simplesmente. Imaginem só o ar de simplicidade com um quê de rústico que isso proporciona. Quem me dera soubesse retratá-lo.
Se um dia realizar meu sonho e sei que irei realizá-lo, o de ser um Senador da República, nunca deixarei, prometo, de tomar o caldo de ovos do Mercado Central, a não ser quando não puder, mas sempre que tiver disponibilidade estarei lá. Caros eleitores, se um dia votares em mim e quiseres reivindicar, passe no Mercado Central pela manhã que lá me encontrarás a tomar um caldinho. Irei ouvir-lhes com toda certeza.
Para finalizar quero dedicar alguns abraços: abraços aos companheiros de café da manhã, meus companheiros de trabalho pesado no foco do sustento familiar. Abraços aos meus irmãos que somente buscam o que comer e o lugar onde morarem. Um gigantesco beijo à minha mãe amada por ter me levado quando pequeno ao Mercado Central e por me ensinar que a simplicidade é o alicerce da vida. E um grande beijo ao meu pai por sempre pagar, quando peço, um caldo de ovos na rodoviária de Bacabal, quando volto, com direito a rima, a vivenciar o que é alhures da capital.
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