“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

segunda-feira, 14 de março de 2011

DESIGUALDADE E RACISMO, UM RETROCESSO

A visibilidade da desigualdade espacial e social no Brasil é estruturalmente contundente, sendo inclusive danificante na edificação da nação como país desenvolvido, tornando-se assim o Brasil nada mais que uma balança de medida onde o quilograma pesa significativamente para somente um dos lados, o que, consequentemente, vem a deixar o lado oposto com o gostinho da omissão cupular.
Essa desigualdade tão vigente desde o âmbito social ao étnico abriu portas para a discriminação, que nada mais é que o preconceito em sua forma prática. Pode-se dizer que a discriminação, em todos os seus âmbitos e nuanças, é algo não desejado por ninguém e também repudiado pela constituição que nos rege. Essa, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (nossa atual), repele qualquer tipo de discriminação, principalmente as que dizem respeito à raça e as referentes à admissibilidade de empregos, sendo essa última mais defendida ainda pela convenção 111 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que repudia qualquer discriminação que venha a afetar a igualdade de oportunidades entre as pessoas, com exceção somente daquelas fundadas nas qualificações exigidas.
Sim, e hoje, em pleno cotidiano, nessa era de informatização e de igualdade na busca de trabalho, nesse século onde há a mínima intromissão estatal no que tange à iniciativa privada, nesse sistema federativo que nos rege, o da descentralização, será que ainda há qualquer resquício do que seja discriminação, sobretudo a racial que é tão repelida pela legalidade?
De fato, ainda há sêmens de discriminações, assim como o da auto-discriminação, pois muitos negros chegam a discriminarem-se entre si pela sua baixa-estima já estereotipada de que a pigmentação escura configura inferioridade. Digo isso também devido às variadas piadinhas que são lançadas aos negros, como a que diz que o branco vestido de branco é doutor, e o negro vestido de branco é macumbeiro, por exemplo. Assim lhes pergunto: o que é isso se não a discriminação em forma e espécie?
Por uma parte, toda essa discriminação provém de uma raiz cultural, devido aos tempos de outrora, quando os negros eram escravizados, vendidos e tidos como objetos e utensílios, muitos até mesmo tidos como bichos domados, todos açoitados à execução de trabalhos braçais exaustivos, calcados sob a indiferença de olhares menosprezantes.
Portanto, como há a nítida percepção de que a discriminação no que concerne à etnia é voltada diretamente para o negro, já que a sociedade assim dispôs desde os primórdios quando aqueles foram arrancados de sua pátria mãe para trabalharem nas terras do Novo Mundo sob as ordens dos colonizadores, resta-nos hoje, pelo menos politicamente, trabalhar para que haja o arrefecimento dessa discriminação oriunda de séculos passados.
Certamente, muitos negros até hoje acham que a Lei Áurea foi imposta por uma rainha que era benévola e que queria extirpar da face terrestre o sofrimento dos negros. Mas, na verdade, essa tal lei vigorou a partir do início do contrato de trabalho assalariado, pois os negros enquanto escravos não recebiam qualquer valor que os possibilitassem a efetuação de compras, ou seja, os negros não davam lucro às classes produtoras por não serem mãos-de-obra consumidora, vindo isso a inviabilizar a ascensão econômica e social das partes interessadas, da classe que estava em pleno processo de solidificação, a burguesia. Eis aí o motivo de ser da Lei Áurea.
De todo esse desenrolar fica no ar uma pergunta: Como arrancar e desvincular a sociedade contemporânea dessa discriminação que ainda persiste? Pois, “quando alguém está sendo inferiorizado, seja por causa de sua cor ou por sua crença, passa a desenvolver um sentimento de raiva, tornando-se assim violento”, exemplifica a psicóloga Osimar Beatriz Tura. E então, continuaremos nesse eterno retrocesso, ferindo e criando fissuras na dignidade humana?

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