A visibilidade da desigualdade espacial e social no Brasil é estruturalmente contundente, sendo inclusive danificante na edificação da nação como país desenvolvido, tornando-se assim o Brasil nada mais que uma balança de medida onde o quilograma pesa significativamente para somente um dos lados, o que, consequentemente, vem a deixar o lado oposto com o gostinho da omissão cupular.
Essa desigualdade tão vigente desde o âmbito social ao étnico abriu portas para a discriminação, que nada mais é que o preconceito em sua forma prática. Pode-se dizer que a discriminação, em todos os seus âmbitos e nuanças, é algo não desejado por ninguém e também repudiado pela constituição que nos rege. Essa, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (nossa atual), repele qualquer tipo de discriminação, principalmente as que dizem respeito à raça e as referentes à admissibilidade de empregos, sendo essa última mais defendida ainda pela convenção 111 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que repudia qualquer discriminação que venha a afetar a igualdade de oportunidades entre as pessoas, com exceção somente daquelas fundadas nas qualificações exigidas.
Sim, e hoje, em pleno cotidiano, nessa era de informatização e de igualdade na busca de trabalho, nesse século onde há a mínima intromissão estatal no que tange à iniciativa privada, nesse sistema federativo que nos rege, o da descentralização, será que ainda há qualquer resquício do que seja discriminação, sobretudo a racial que é tão repelida pela legalidade?
De fato, ainda há sêmens de discriminações, assim como o da auto-discriminação, pois muitos negros chegam a discriminarem-se entre si pela sua baixa-estima já estereotipada de que a pigmentação escura configura inferioridade. Digo isso também devido às variadas piadinhas que são lançadas aos negros, como a que diz que o branco vestido de branco é doutor, e o negro vestido de branco é macumbeiro, por exemplo. Assim lhes pergunto: o que é isso se não a discriminação em forma e espécie?
Por uma parte, toda essa discriminação provém de uma raiz cultural, devido aos tempos de outrora, quando os negros eram escravizados, vendidos e tidos como objetos e utensílios, muitos até mesmo tidos como bichos domados, todos açoitados à execução de trabalhos braçais exaustivos, calcados sob a indiferença de olhares menosprezantes.
Portanto, como há a nítida percepção de que a discriminação no que concerne à etnia é voltada diretamente para o negro, já que a sociedade assim dispôs desde os primórdios quando aqueles foram arrancados de sua pátria mãe para trabalharem nas terras do Novo Mundo sob as ordens dos colonizadores, resta-nos hoje, pelo menos politicamente, trabalhar para que haja o arrefecimento dessa discriminação oriunda de séculos passados.
Certamente, muitos negros até hoje acham que a Lei Áurea foi imposta por uma rainha que era benévola e que queria extirpar da face terrestre o sofrimento dos negros. Mas, na verdade, essa tal lei vigorou a partir do início do contrato de trabalho assalariado, pois os negros enquanto escravos não recebiam qualquer valor que os possibilitassem a efetuação de compras, ou seja, os negros não davam lucro às classes produtoras por não serem mãos-de-obra consumidora, vindo isso a inviabilizar a ascensão econômica e social das partes interessadas, da classe que estava em pleno processo de solidificação, a burguesia. Eis aí o motivo de ser da Lei Áurea.
De todo esse desenrolar fica no ar uma pergunta: Como arrancar e desvincular a sociedade contemporânea dessa discriminação que ainda persiste? Pois, “quando alguém está sendo inferiorizado, seja por causa de sua cor ou por sua crença, passa a desenvolver um sentimento de raiva, tornando-se assim violento”, exemplifica a psicóloga Osimar Beatriz Tura. E então, continuaremos nesse eterno retrocesso, ferindo e criando fissuras na dignidade humana?
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