“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

UMA VIDA...

O desenlace de uma vida se dá, no ponto de vista de muita gente, com a morte, e esta para muitos é o maior terror e temor, superior a todos os demais medos.
Uma das coisas que mais me impressionava era o tremendo medo que minha mãe tinha de eu morrer. Era algo sublime. Mas eu, ao contrário dela, não tinha medo da morte, mas tão-somente da forma como iria morrer, se de velhice, se baleado, se estrangulado... Sempre encarei a morte como um ponto de liberdade, como o primeiro degrau da verdadeira ascensão. Digo-lhes isso devido à vida que levamos. Qual? Esta em que não fazemos o que queremos, mas o que propõe o homem mascarado de Estado. Se porventura alguém tiver a ousadia de fazer o que quer, sem se importar com o desejo do Estado, do governo, das alíquotas ou de algo afim, com certeza tal pessoa será marginalizada, posta de lado pela sociedade, sofrendo a qualificação de pessoa desqualificada. E quem gosta de ser posto de lado, de ser tachado de ineficiente? Eu particularmente não gosto. Por isso digo ser esta vida algo que se assemelha a uma efêmera prisão, já que temos que nos adequarmos às convenções estabelecidas por um determinado grupo, sobretudo os oligárquicos. É uma prisão de fato. De fato no meu ponto de vista, não sei se nos dos outros. Sabes por quê? Porque vejo pessoas que possuem patrimônios e materiais que despertam “vontade de ter” serem bajuladas, serem bem tratadas, serem bem recebidas. Alguém já viu algum mendigo, algum pedinte, aqueles vendedores de bombons dos coletivos serem bajulados, babados? Alguém já os convidou para almoçar em sua residência, para matar a fome da fraternidade? Isso é o que me entristece em demasia: o interesse das pessoas pelo materialismo alheio, pela posição de alguém, pela condição financeira de outrem. Isso é o que vejo todos os dias, no dia-a-dia que se configura um paradoxo em relação ao que disse Oscar Wilde: “a verdadeira perfeição do homem reside não no que o homem tem, mas no que o homem é.”
É por isso que continuo a afirmar ser esta vida uma prisão para muitos, um ponto de aprendizagem onde só a loucura há de dinamizar qualquer situação engessada. Muitas das vezes já fui rejeitado por estar de bermudinha e sandália, assim como já fui bajulado por estar de Nike Shox, Rat Boy e Adidas, pagando rodadas de cerveja, consumindo nalgum bar ou algo afim. O que é isso? Estamos passando a dignificar a índole das pessoas pelo o que elas têm? Então quer dizer que os abastados são seres humanos e os que estão catando lixo para sustento próprio e familiar é bicho? Não levem o poema do Manuel Bandeira a sério. É arte! Eles são também seres humanos, com a mesma parcela de dignidade que qualquer elitista diz possuir. Que bom que um dia, acho eu, a não ser se a reencarnação de fato existir, deixarei de presenciar tais situações, tais condições.

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