“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

domingo, 13 de fevereiro de 2011

COISINHAS DA INFÂNCIA 2: uma visão nacionalista

Muitas tardes, muitas tardes mesmo, as de outrora, tardes estas que faziam parte da minha rotina de infância, foram sempre levadas na brincadeira (e qual a criança que não brinca?), isso tudo quando passei a morar no centro histórico, denominado, pela UNESCO, ainda no governo da Roseana Sarney, de patrimônio cultural da humanidade. Para dizer a verdade, sempre morei no centro histórico de São Luís, até quando era somente nascituro. Morei no Desterro séculos após ser invadido e saqueado pelos batavos.
Uma coisa posso afirma-lhes com total veemência: nasci um ano após a promulgação da nossa atual Constituição Federativa e no Estado de quem a promulgou, o José Sarney. Perdi muitas coisas que queria ter participado e estar vivo para ver. Uma delas foi o golpe militar de 1964, querendo eu ter participado do movimento estudantil da época, inspirado pelos ideais de um argentino comunista, Che Guevara, buscando juntamente com os estudantes a fome ideológica da concretização de uma sociedade alternativa. Uma eternidade se passou antes de eu nascer. Uma eternidade há de passar após minha morte.
O que posso dizer-lhes é que minha infância não foi conturbada como a infância brasileira a foi, quer dizer, foi em partes. Ao nascer nem sequer mamei nas tetas das vacas dos latifundiários, mas tão-somente mamei nos seios de minha sofredora mãe.
Desde quando nasci vim morando de aluguel, mas nunca tive coragem de pedir um pedacinho de terra aos latifundiários. Pra quê? Pra deixá-los com o medo de relembrar o espectro janguista-comunista com suas sonhadas reformas de base? Pra quê? Pra me fazerem ser temido por meio de denúncias na mídia? Para ser torturado pelos meios coercivos estatais e ser tachado de comunista, já que estes são denominados subversivos e agitadores (não por mim, mas pela classe patronal)?  Ah, ia me esquecendo dum detalhe: na dispensa da minha humilde moradia havia e há mais macarrõezinhos instantâneos do que bife na geladeira, esta um pouquinho antiga e enferrujada, mas não deixa de ser uma geladeira, e muita boa por sinal. Já a infância brasileira passou pela mesma situação, alimentando-se somente do miojo e deixando com que os empresários e oligarcas comessem o tanto de bife que quisessem. Nos pratos populares havia somente o feijão com arroz (nada contra esse prato, pois não o troco por qualquer escargot), e nos poucos pratos elitistas o cardápio variado, o sushi monopolista de interesses econômicos.
Nasci bem depois da greve de 1951, que ficou conhecida como a “Balaiada Urbana”, mas nem por isso me desanimo, pois ainda dialogo com o Poeta Nauro Machado que é testemunha ocular do que aconteceu. O mesmo digo da greve da meia-passagem realizada pelos estudantes no período governamental do Castelo, último governador eleito indiretamente. Não pude vivenciar esses grandes acontecimentos. Parece-me que antes o povo ia à busca de uma solução. Hoje as coisas mudaram. Todo ano a tarifa dos coletivos aumenta e só ouço reclamações nos cantos. Reclamar com as paredes mudará algo?  O negócio mesmo é dá duro no trampo. Nós trabalhamos para eles receberem. Sempre foi assim desde que nasci: é né, fazer o quê?  A gente é que faz malabarismos pra não passar fome e eles é que são os artistas.


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