“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

quarta-feira, 6 de março de 2013

UM BRASIL NEOLIBERAL, O PRIVADO OU O COLETIVO?



                                                                 Anderson Costa 
Para os neoliberais, “o lucro é Deus”, não o bem público. O capitalismo não é, essencialmente, bondoso. Os plurocratas não são, essencialmente, filantrópicos, mesmo que alguns indivíduos possam sê-lo. No capitalismo, o motor das políticas é a demanda insaciável pelo lucro, não a riqueza, o bem público social ou comum. (HILL. D., p.26)

Para falar em neoliberalismo, primeiramente e, de antemão, deve-se falar em Estado, objeto pertinente e do interesse de muitos estudiosos de outrora, como Hobbes, em Leviatã, e John Locke, no Segundo tratado sobre o governo, onde expõem e explicitam as respectivas nuanças teóricas que balizam o Estado, por exemplo. Porém, é bom lembrar que, até hoje, o Estado continua sendo estudado e exposto teoricamente por muitos contemporâneos focados na elucidação desse fenômeno que se originara a partir do contratualismo engendrado por aqueles que buscavam proteção não só contra a “lei” do Estado de Natureza, mas a de suas respectivas propriedades contra rapinadores, vigentes em demasia quando da época em que vigorava o estado de natureza.

Mas, o que vem a ser Estado? Ora, ao se falar em Estado, o que vem à superfície cognitiva de qualquer pessoa é algo que lembre ou se assemelhe à “política”, governo e/ou eleição. Todavia, o Estado, cotidianamente, é configurado como uma entidade com poder soberano para governar um povo dentro de uma área territorial delimitada. Por isso, devido ao poder soberano que lhe é atribuído, é que há a devida intervenção (por ele fornecida) quando estão em xeque os seus interesses. Porém, “essas teorias de intervenção estatal começam a dar sinais de desgaste devido às frequentes dificuldades dos Estados em arcar com as responsabilidades sociais assumidas.” (ARANHA, p.261). Por isso, “desde a década de 40 alguns teóricos, como o austríaco Friedrich von Hayek (1899), defendiam o retorno às medidas liberistas do livre mercado.”(ibidem, p. 261)

Pode-se dizer, a partir daí, que o neoliberalismo, grosseiramente falando, configura-se como uma abertura comercial, como a entrada de multinacionais em determinados territórios que se deixam penetrar com o escopo econômico-privado do lucro. O Brasil, apesar de ser neoliberal, não nascera como tal. Ele passara, segundo a historiografia tradicional, por diversificados governos, muitos deles populares e nacionalistas, como o de Getúlio Vargas, por exemplo.

Há quem afirme que a semente do sistema neoliberal tenha sido plantada por Fernando Collor, mas, se a história brasileira for verifica com o devido cuidado, perceber-se-á que o neoliberalismo tivera sua semente plantada, de início, no governo de Juscelino Kubitschek (JK), já que nele foram implantados em território brasileiro grandes pólos automobilísticos, oriundos de países estrangeiros, pois “apesar do nome, a política de expansão industrial do presidente não teve nada de nacionalista. Foi, pelo contrário, repleta de medidas de desnacionalização.” (HISTÓRIA VESTIBULAR + ENEM 2011, p. 133), ou seja, menos intromissão estatal e maior envolvimento privado, por isso, quando se fala em governo neoliberal, fala-se concomitantemente em desestatizações e privatizações. Pode-ser ver isso:

A partir da década de 80, os governos de Reagan e depois Bush, nos Estados Unidos, e de Margareth Thatcher na Inglaterra são representantes da nova onda neoliberal. No Brasil a tendência se confirma nos processos de privatização de organismos estatais e abolição da reserva de mercado. Mas contraditoriamente esbarra em outras medidas de nítida intervenção estatal (muitas vezes exacerbadas) como a dos sucessivos planos heterodoxos de controle da economia para conter a inflação. (ARANHA, p.261)

Portanto, juntamente com o neoliberalismo vêm entranhadas as ideias de progresso e produtividade, e, antes de mais nada, pode-se afirmar com veemência que o neoliberalismo é o carro-chefe do capitalismo, com a devida  intervenção  do Estado, a fim de eliminar tudo aquilo que possa obstruir o livre funcionamento do mecanismo de preços livremente formados, como o combate aos agrupamentos de produtores, carteis ou trustes nacionais ou internacionais, consubstanciando tudo isso uma doutrina estatal fundamental ao neoliberalismo.

Não obstante, já no que concerne ao Estado-mínimo, vê-se, no mundo todo, com a fortificação desse sistema em questão, o enfraquecimento dos governos e o fortalecimento da iniciativa privada. É a livre concorrência, é o lucro, é o crescimento em produção dos “senhores de engenho”, é a avareza e o péssimo serviço prestado à coletividade, já que este deveria ser o segmento mais privilegiado pelo Estado. Mas, como é de praxe, concretizado e visto a olho nu, não se vê essa assistência que deveria ser direcionada ao coletivo.

Pelo menos teoricamente falando, um dos focos precípuos do Estado seria o bem-estar social, mas, eis que daí surgira, a partir de uma boa jogada estratégica lançada pelos neoliberais quando da crise do petróleo de 1973, a aglutinação de  muitos problemas sociais e, no aproveito do ensejo, neoliberais puseram a culpa de tamanha crise na política que visava ao bem-estar social, vingando daí até os dias de hoje essa política não muito benfazeja em relação à decrepitude vigente no espaço social, já que o “interesse privado geralmente  não coincide com o bem coletivo.” (MARIA HELENA, p.270), como já fora supradito.

Ademais, essa gama de “malefícios” originados pelo sistema neoliberal é explicitamente exposta sob a égide da globalização e da produção desenfreada, voltadas ao lucro exorbitante de empresários sedentos e ambiciosos, detentores dos meios de produção e filhos legítimos do neoliberalismo e seus lados obscuros, como asseveram Mara Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins no livro intitulado Filosofando, Introdução à Filosofia: “um dos lados sombrios do capitalismo está, portanto, na má distribuição de renda, com concentração de riqueza em poucos países ricos, e nestes, nos pequenos grupos privilegiados. Em decorrência, não há como evitar os focos de pobreza e miséria, e ainda desemprego, migrações, marginalizações de jovens e velhos, surtos inflacionários reprimidos por recessão longa e dolorosa.”

Vê-se então que o neoliberalismo, além de suas intenções econômico-lucrativas, está embasada em intumescidos problemas, sobretudo sociais, já que aquilo que é privado constrói-se sobre o epitáfio e em detrimento do coletivo, pois, “com o grande poder vem a grande irresponsabilidade. Assim os serviços públicos privatizados, como o sistema de transporte ferroviário, os serviços de saúde e educação e o fornecimento grátis de água potável são geridos para maximizar os lucros  de seus acionistas, em vez de prestar serviços públicos, ou para permitir o desenvolvimento sustentável do Terceiro  Mundo ou para a integridade e crescimento econômico nacional; estes objetivos não fazem parte do programa de globalização , e nem mesmo, dos planos  do capital neoliberal nacional.”(HILL. D., p.26).

A globalização, incontestavelmente, anda de mãos dadas com o neoliberalismo, ambas convergindo e se alimentando dos mesmos interesses, assim como ambas funcionando como pilares sustentadores do sistema que lhes dá embasamento:

a globalização não é um fenômeno qualitativamente novo mas uma tendência, que sempre 
foi integral para o crescimento do capitalismo...  Dentro do paradigma marxista existe um crescente reconhecimento da relevância do relato de Marx exposto no Manifesto Comunista que a globalização é o resultado previsível das tendências expansionistas do capitalismo evidentes desde que emergiu como uma forma viável da sociedade (Raduntz, 2002)

Portanto, o neoliberalismo, sobretudo no Brasil, foca tão somente os benefícios próprios, devorando tudo aquilo que venha de encontro aos seus ideais lucrativos, como acontece com o meio ambiente, por exemplo, visto que, com tal sistema sendo, ferrenhamente, o “contraponto da evolução tecnológica, ocorre a destruição do meio ambiente e o desequilíbrio ecológico, pois a lógica do interesse privado geralmente não coincide com o bem coletivo.” (ARANHA, p. 270).

O que fazer então, se esse sistema privilegia somente a minoria, enquanto a maioria passa por sucessivas e cotidianas intempéries negativas, mormente no Brasil, onde a concentração de renda atinge níveis alarmantes? O que esperar de um sistema que tende a rejeitar o Estado assistencialista - que teoricamente significa a contradição com o livre mercado -, mas que bem ou mal tem ajudado a minorar as dificuldades dos trabalhadores? Fica então a reflexão, de forma contundente e assertiva, exposta no livro Filosofando, Introdução à filosofia, de Maria Lúcia Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins (1993, p.270): “Daqui para frente, na selva do ‘salve-se quem puder’, onde já sabemos de antemão que as chances no ponto de partida não são iguais, a tendência é o recrudescimento dos problemas sociais.” Ou seja, enquanto tal sistema vigorar com força total, as desigualdades vigentes em todo o espaço mundial e, mormente, nacional, serão corporificadas com mais coesão e, sem sombras de dúvidas, mais robustas ficarão, pois o social jamais será o interesse primário do neoliberalismo, mas unicamente o livre mercado com seu capital lucrativo e sua abastança monetária.

CAPITALISMO, TRABALHO ALIENADO E RESISTÊNCIAS

por Anderson Costa


Uma das maiores preocupações mundiais, pelos menos pseudo-teoricamente falando, diz respeito à degradação pelo qual vem passando o planeta, daí originando-se a nomenclatura da vez, o vocábulo mais falado do século XXI: sustentabilidade. Mas tudo isso, toda essa degradação ambiental e afim, fora e ainda é ensejada pelo avanço exacerbado do Capitalismo, voraz e desenfreado, irrefutável e destruidor, com o escopo “benévolo” da globalização, da economia, do setor privado e do neoliberalismo.

Todavia, não há como falar em Capitalismo e suas nuanças sem antes não falar em trabalho, tanto braçal quanto tecnológico, já que qualquer uma de suas formas e espécies funciona como alicerce do sistema econômico em questão e vigente, o Capitalismo. Ora, para quê serve o trabalho senão para produzir riquezas, robustecer ainda mais o corpo capitalista e alienar o trabalhador ao produzir em demasia objetos estranhos e alheios a si mesmo? É o que Marx asseverara ao dizer que, “quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza. Ocorre então a alienação, já que todo trabalho é alienado, na medida em que se manifesta como produção de um objeto que é alheio ao sujeito criador”.
Sem sombras de dúvidas, o Capitalismo extirpa do homem a sua força de trabalho e sua “liberdade” em prol, sobretudo, da propriedade privada, já que fora demonstrado por Marx que “a propriedade privada constituiu o resultado do trabalho alienado. Com o desenvolvimento da propriedade privada, desvenda-se o seu segredo, para saber, de um lado, que ela é o produto do trabalho alienado e, por outro, que ela é o meio pelo qual o trabalho se aliena, a realização da alienação.”

Mas, além da alienação oriunda do trabalho, outro fator preponderantemente imposto por um dos produtos capitalistas, a globalização, diz respeito à quebra e até mesmo a destruição de tradições e identidades culturais, como a destruição de muitas comunidades e afins, como a expansão de obras urbanas em detrimento do ruralismo, como a mecanização de atividades agrícolas, antes desempenhadas por grupos já com identidades consubstanciadas, porém quebradas com êxodo rural, assimilando identidades alheias e legitimadas, todas com o foco precípuo do “progresso” e da “globalização”. Mas, que progresso é esse que hegemoniza unilateralmente as identidades, legitimando-as? Eis aí o motivo preconizador das resistências, mais precisamente falando, das identidades de resistências, como é claramente exposta no filme de Eliane Caffé, “Os narradores de Javé”, aonde a identidade legitimada vem com força total, tentando sobrepujar com esmagadora violência e através de lemas progressistas as demais identidades corporificadas nas comunidades, sendo a maioria rural, haja vista um mundo regido pelo “modus vivendi” (identidade legitimadora).  Daí há o surgir dos movimentos urbanos, como identidades de resistências que são, às exarcebações do capitalismo, estatismo e informacionalismo. Daí a resistência dos moradores de Javé, subsidiados por sua cultura e história, por suas fontes de significados e experiências, por um conjunto de atributos culturais inter-relacionados, subsidiados, mormente, por sua identidade local, já que as “identidades por sua vez constituem fontes de significados para os próprios atores, por eles originadas, e construídas por um processo de individuação.” (CASTELLS, p. 21)

Portanto, vê-se aí o papel devastador do Capitalismo, tanto no que concerne à alienação dos homens através do trabalho, quanto através da imposição da identidade legitimada através dos pressupostos tecnológicos do progresso e da globalização. Mas a pergunta continua sendo a mesma: “quem realmente sai ganhando com tudo isso, os que detêm suas identidades devastadas ou os que usufruem da devastação das identidades alheias? Quem se beneficia mais, os que são devorados pela globalização ou os que se acham necessitar da destruição da identidade cultural alheia para ter luz, notebooks, Tv’s e afins em suas residências, respaldados pela teoria da informatização tecnológico-global?

Fica aí em xeque os princípios alicerçadores do Capitalismo, onde o legitimado detém prerrogativas à revelia de qualquer empecilho que venha de encontro aos seus interesses. E a resistência, essa deve resistir até onde puder. 



quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MARSHALL BERMAN, as aventuras da modernidade



por Anderson Costa

Paradoxismo, antítese e discrepâncias são alguns dos pressupostos da modernidade segundo Marshall Berman no seu livro intitulado “Tudo que é sólido se desmancha no ar, as aventuras da modernidade”. Sem sombras de dúvidas, a modernidade diverge, com a alcunha de progressista, do tradicional, rotulado como estático e/ou sem movimento.Segundo o autor supracitado, a partir da visão futurista de italianos defensores da modernidade, “tradição se iguala simplesmente à dócil escravidão, e modernidade, à liberdade”. Daí tira-se a conclusão contextual e, veemente por sinal, de que a modernidade nada mais é que o desagrilhoamento do que seja estagnado e fincado, ganhando a modernidade, por assim dizer, um caráter dinâmico, de movimento, de constante mudança, “desmanchando no ar tudo que é, ou era até então, sólido”. Um exemplo fatídico dessa dicotomia tradicional-modernidade diz respeito às definições que permeiam as conceituações sobre certo e errado, embaralhando-as e trazendo à tona complicações no que tange ao genuíno do que seja certo e do que seja errado, pondo-nos a todos, metaforicamente falando, à deriva, destituídos de firmes assoalhos e de conceitos universais.

Marshall faz referência crucial e consubstanciadora da modernidade ao falar no capitalismo como sua mola propulsora, da revolução burguesa como sua mãe criadora, assim como a interação do binômio homem-máquina, a velocidade que encurte as distâncias que outrora eram longas, a voraz globalização, interligadora das culturas, assim como, viabilizante de turvidões a respeito das identidades alheias, da unicidade, formadora do individualismo exacerbado e da concretude cognitiva.

Incontestavelmente, um dos principais pilares sustentadores da modernidade é a tecnologia, explicitada com vigor por Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, no seu poema Ode Triunfal:

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! (...)
In Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986.

O que se pode concluir, talvez precipitadamente, é que, tudo que seja oriundo do capitalismo e que funcione para seu crescimento “salutar” forma as bases e alicerces sustentadores da modernidade, metamorfoseando as nuanças intrínsecas ao ser humano, como assevera Marshall: “somos seres sem espírito, sem coração, sem identidade sexual ou pessoal...” E eis que surge a oportuna pergunta: “viverá o capitalismo sem suas máquinas proporcionalizantes da produção imódica em prol da modernidade mercantilista? Conseguirá o homem viver sem os aparelhos celulares, computadores e afins? Indubitavelmente, não! Ou seja, ao passo em que a modernidade desagrilhoa do tradicional, concomitantemente encarcera a todos na prisão ideológica do progresso tecnológico, tornando-nos seres passivos e submissos às engrenagens da tecnologia.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

DE HOBBES A LOCKE


DE HOBBES A LOCKE

por Anderson Costa

A sociedade, mais precisamente falando, o Estado civil onde vivemos, é fruto, pelo menos teoricamente falando, de uma conjuntura ideológica proveniente de muitos autores e pensadores, mormente os de outrora. Se vivemos sob a égide da lei, sob qualquer limitação que concerne à liberdade de ação humana e, sobretudo, sob as rédeas do Estado, é devido a uma série de acontecimentos que culminaram no que hoje chamamos de sociedade civil e, graças aos contratualistas, temos a oportunidade de entendermos esse processo que gerou os meios adequados e salutar para um convívio social harmonioso e “feliz”.

De fato, o contratualismo não terá coerência se não se falar antes em Estado de Natureza (ou Estado Natural), que diz respeito, no ponto de vista hobbiniano a um completo caos, pelo simples fato de inexistir leis que limitem a ação e as arbitrariedades do homem, já que, nesse Estado: “o homem é lobo do homem”, como asseverara Hobbes. Todavia, o Estado de Natureza, com suas nuanças e acepções, varia de acordo com a visão e a época de cada contratualista: para Hobbes, como fora supracitado, tal estado não passa de um verdadeiro caos, onde predomina a violência, o egoísmo e a cobiça que, segundo o autor é intrínseco ao homem. Eis aí o motivo de ser do Absolutismo impregnado da sua obra principal, Leviatã, defendendo o uso absoluto da força: “para Hobbes, o poder do soberano deve ser absoluto, isto é, ilimitado. A transmissão do poder dos indivíduos ao soberano deve ser total, caso contrário, um pouco que seja conservado da liberdade natural dos homens, instaura-se de novo a guerra” (Maria Lúcia de Arruda Aranha, Filosofando, Introdução à filosofia, p.211)


Em contrapartida, John Locke, quebrando os pilares do absolutismo, dá ensejo, principalmente devido aos eventos políticos de sua época, como a Revolução Gloriosa, por exemplo, ao Liberalismo político, já que, enquanto Hobbes destacava a soberania do poder Executivo, Locke considera o Legislativo o poder supremo. Contudo, ao contrário de Hobbes, aquele ver o Estado de Natureza como de relativa de paz. Mas, atinente ao Contrato Social, o que o viabilizou, para Hobbes, foi tão somente a violência oriunda das adversidades que o estado natural proporcionava, ou seja, “tendo em vista conseguir a paz, e através disso sua própria conservação, criaram um homem artificial, ao qual chamamos Estado”. (Hobbes, Leviatã, Col. de pensadores, p. 134-135). Já para Locke, o que propiciou o dito contrato foi a ideia de propriedade por ele consubstanciada, com o objetivo da defesa de outros homens, isto é, da defesa da rapinagem, prática comumente usada nesse estado: “estas circunstâncias obrigaram-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade”. (Locke, Segundo Tratado sobre o Governo, Col. Os pensadores, p.88)


Eis aí um paralelo resumido e uma ideia superficial do contratualismo e contratualistas, lembrando que, além de Hobbes e Locke, houve também Rousseau, autor de O contrato Social e Origem da desigualdade entre os homens, evidenciando, nesta última obra, situações hipotéticas do Estado de Natureza que também culminaram no contrato entre os homens. Uma leitura aprofundada dessas obras seria de muita valia para quem quer aprofundar-se no assunto e entender um pouco mais e assimilar a gama de conhecimentos imbuída nelas.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

SEM MÚSICA E SEM LEITURA

por Joãozinho Ribeiro

Passei duas semanas sem produzir artigos para essa coluna, não por falta de assuntos, pois esses transbordaram nestas últimas semanas, incluindo prévias do PT, votação pelo STF sobre o aborto de fetos anencéfalos, CPI do Cachoeira, 18º salários dos deputados do Maranhão e tantos outros temas de maior ou menor monta.


A verdade é que me defrontei com alguns problemas de saúde que exigiram algumas modificações urgentes de hábitos repetidos por muitos e muitos anos, passando por dieta rigorosa, exercícios físicos y otras cositas mas. Por isso, encontro-me, desde a páscoa, recolhido em algumas reflexões sobre a vida e sobre a conduta dos seres que me cercam e sobre algumas coisas que ainda acreditamos como parte indeclinável das nossas utopias.

No exato momento em que me debruço na elaboração destas linhas, tomo conhecimento pelo programa da Universidade FM, “Chorinhos e Chorões”, do fechamento das duas escolas oficiais de música, localizadas na capital: a Lilah Lisboa, do Governo do Estado, e a Municipal, ligada a Prefeitura de São Luís. Duas importantíssimas instituições, pelas quais já passaram gerações de músicos do mais reconhecido gabarito.

Tudo isso acontecendo na semana em que a cidade é agraciada com o pomposo título de Capital Americana da Cultura, e no ano em que completa 400 setembros de existência. Não bastasse o fechamento da Biblioteca Pública Benedito Leite, que data do primeiro semestre de 2009, agora contamos com mais essa “premiação” inusitada das duas escolas de música de São Luís, na contramão do discurso dos dois governantes, que se esmeram em tentar demonstrar quem é mais amante da cultura maranhense, na farta publicidade com que o dinheiro público irriga diariamente os meios de comunicação.

Até há pouco tempo, quem sabe ingenuamente, ainda acreditava que algumas sacolas de maldades e de deliberado escárnio com a coisa pública era apenas resultado da inapetência ou incompetência dos gestores, conduzidos a cargos com os quais já não se sentiam portadores de nenhuma responsabilidade. Agora me passa uma certeza de que sabem perfeitamente o que estão fazendo e do que pretendem com estas ações ou omissões. Como diria D. Amália, minha saudosa mãe: não dão ponto sem nó.

Tenho refletido sobre as palavras atribuídas a Jesus Cristo, quando já se encontrava pregado no madeiro, e ainda assim derramava sua compaixão sobre homens e mulheres que o traíram e o condenaram, externando sua extrema generosidade isenta de qualquer vingança ou rancor pelos atos cruéis que resultaram em sua crucificação: “Pai, perdoai, pois eles não sabem o que fazem”.

Se pensarmos num Cristo contemporâneo, inteirado naturalmente por obra e graça da sua onisciência, dos problemas que rondam o planeta, da corrupção sem limite existente no mundo, da proposta imoral de Código Florestal que está prestes a ser aprovada pelo Congresso Nacional, dos incontáveis salários dos parlamentares brasileiros, com toda a certeza, penso que mudaria radicalmente o teor de suas palavras para: “PAI, NÃO PERDOAI, POIS ELES SABEM, MUITO BEM, O QUE FAZEM!”.
Joãozinho Ribeiro escreve para o Jornal Pequeno às segundas-feiras.

domingo, 22 de abril de 2012

QUE VENHA A SÃO LUÍS BELA E QUE VÁ A SÃO LUÍS FEIA E MAL FALADA!






Meu povo, já estou com o abaixo assinado que enfatiza a revitalização infraestrutural e de saneamento básico do retorno do Anel Viário em mãos. Este será destinado ao futuro Prefeito de nossa Cidade, visto que, como esse ano é de eleição, nada de grande vulto será feito pela atual Administração. Estou com o foco na gestão vindoura. Quem pretender assiná-lo, avise-me desde já. Quanto mais assinaturas forem recolhidas, mais peso terá nossa reivindicação e, consequentemente, maiores chances de ser atendida. Conto com todos que querem ver a nossa Cidade bela. Contando com o apoio do movimento estudantil da UFMA, do nosso artista Joãozinho Ribeiro e da nossa excelentíssima e brilhante Deputada Eliziane Gama...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Dilma dinamite Numa só semana, ela implodiu nomes fortes do PT e do PMDB. Quem é o próximo?

Por: Leonardo Attuch , colunista da ISTOÉ.


Quatro meses atrás, quando foi capa da revista “Newsweek”, a presidenta Dilma Rousseff ganhou um apelido preciso: “Dynamite Dilma”. Aquela reportagem, no entanto, não deve ter sido lida pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que dorme e acorda sonhando com a presidência da Câmara dos Deputados. Dias atrás, quando seu apadrinhado no Departamento Nacional de Obras contra as Secas balançava no cargo, suspeito de drenar quase todos os recursos do órgão para o Rio Grande do Norte, Alves bravateou: “Ela não vai querer comprar uma briga com o maior partido do País.” Comprou. Horas depois, Elias Fernandes, que mandava no Dnocs, estava demitido e o líder do PMDB se viu humilhado e reduzido ao seu verdadeiro tamanho.

Antes dele, José Sérgio Gabrielli, também brincou com fogo ao alardear que tinha o costume de gritar com a então ministra Dilma. No começo da semana, foi demitido da Petrobras e saiu falando fino. Perdeu o comando da maior empresa do País e terá que se contentar com uma secretaria do governo da Bahia. Dilma impôs sua escolha para a estatal, nomeando a diretora Maria das Graças Foster, sem se dar ao trabalho de consultar o partido que a levou ao poder. E, enquanto petistas esperneavam, investidores compravam ações da Petrobras.

Nos próximos dias, especula-se que serão demitidos outros diretores da empresa, indicados por PT e PMDB, os dois partidos que formam o eixo central da coalizão que governa o Brasil. É assim, dinamitando aliados, que Dilma se impõe e vem conduzindo uma reforma do Estado que ultrapassa os partidos. Com o Congresso na mão e sem uma agenda de reformas estruturais, ela ancora a governabilidade na boa imagem que tem junto à opinião pública e ainda tripudia dos aliados ao flertar com os adversários – no dia em que São Paulo festejava seus 458 anos, Dilma recebia medalhas de Gilberto Kassab e posava sorridente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Dilma já percebeu que seu estilo agrada. E se 2011 foi o último ano da era Lula, que ainda não havia desencarnado, 2012 já nasce forjado pela presidenta com a sua marca e a sua cara.

É também um governo com um corte de gênero cada vez mais explícito. No Palácio do Planalto, as três principais assessoras de Dilma são mulheres: Gleisi Hoffmann, Helena Chagas e Ideli Salvatti. Na maior empresa brasileira, carro-chefe do PAC, há uma mulher no comando, Graça Foster, que também tem fama de durona.

Tempos atrás, quando se viu instada a explicar seu estilo, Dilma se definiu como uma mulher dura cercada de homens meigos. A cada dia, para quem ainda duvida, ela prova que sabe e gosta de mandar. E que começa também a criar seus avatares na máquina pública. As mulheres estão no poder.

E os homens, meigos ou não, fariam bem se baixassem a crina.