“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

quarta-feira, 30 de março de 2011

BRASIL

Às vezes quando paro pra pensar, chego, em partes, a entender o ufanismo que foi tão utilizado pelo Emílio Garrastazu Médici quando da liderança da nação. E por que não o utilizaria, sendo o Brasil um país tão pacífico, pelo menos no setor externo (sem levar em conta o pequeno período externamente conturbado da época de Dom Pedro II, assim como o internamente conturbado da época ditatorial imposta pelos militares em 1964)? O próprio Stefan Zweig, no seu livro Brasil, um país do futuro detalha em partes toda a riqueza do nosso país, desde a pigmentação à parte administrativa de uma política ainda instável, desde a vivência primitiva da epiderme interiorana à vida harmoniosa de uma identidade cultural em processo de consubstanciação.
O que seria da nossa nação sem as variadas cores de pele, sem a mesclagem das diversas e, até mesmo adversas, raças que aqui viviam e vivem, sem a democracia que persiste desde a escravidão, pois o próprio Zweig afirma que até os escravos brasileiros eram tratados com mais humanismo em relação aos de outras nações? E isso tudo desde o Brasil – Império, o que entra em contradição com muitos teóricos e estudiosos do assunto escravocrata.

O que impressionou Zweig ao chegar ao Brasil, além da beleza paisagística, das crianças e homens de compleições frágeis, foi o povo pacífico, sem ódio ou rancor em relação às suas diferenças raciais, sem conflitos internos sangrentos por motivos banais, um povo não ligado ao fanatismo de uma raça pura, sem qualquer ensejo imperial, sem qualquer pretensão a domínios territoriais, sobretudo os limítrofes e, principalmente, pelo fato de o Brasil não impor nada a nenhum país vizinho (esquecendo o Zweig das Guerras Platinas).
Lembrando-se caros leitores, que Zweig fez tais afirmações devido ao caos vivido naquela época, a época em que Hitler espalhava o medo e o terror na Europa. Ou seja, o autor estava comparando a realidade brasileira com a europeia, pois Zweig nada mais era que mais um perseguido pelo nazismo e viveu no Brasil muito antes da ditadura militar, por isso as afirmações de tamanha pacificidade brasileira.
Em relação ao que foi dito acima, ainda não mudou muita coisa no que tange à instabilidade política e administrativa, sem contar a questão da improbidade. Até hoje, em pleno século XXI, ainda sofremos em demasia devido à vivência sob a tenda inóspita de uma política mal aplicada, mal desenvolvida, inapta aos grandes recursos existentes que, se bem utilizados, levaria o Brasil a um grande progresso. É algo até mesmo contraditório, pois aqui há Estados maiores que a Alemanha e a França, porém o Brasil inteiro, esse imenso país que sozinho deveria formar um continente, não chega, no que diz respeito à política habitacional, salutar e educacional, aos paradigmas satisfatórios vivenciados naqueles países.
Quando Stefan Zweig afirma ser o Brasil um país do futuro, o diz na questão de um ensinamento pacífico aos demais, servindo como exemplo diplomático, de soluções conflitantes por meio da razão, sem a loucura imperiosa do nazifascismo, sendo que esse mesmo influenciou em partes a política brasileira quando da criação, por parte do Plínio Salgado, da Ação Integralista Brasileira (AIB), que tinha como intenção sufocar os movimentos trabalhistas, sindicalistas e comunistas. Era a ditadura de fato, uma ditadura getulista, mas mesmo assim o povo vivia numa relativa satisfação, devido aos ganhos por parte dos respaldos legais em relação ao trabalho, como a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), a lei do salário mínimo, a industrialização, entre muitas outras coisas que beneficiaram a classe oprimida (não era à toa que Getúlio Vargas era apelidado de “o pai dos pobres”).
Enfim, essa é, em partes ínfimas aqui relatadas, a nação brasileira, uma nação que já relutou entre o parlamentarismo e o presidencialismo, uma nação que já vivenciou os Anos de Chumbo, uma nação que já foi totalmente pisada pelos Atos Institucionais, uma nação que já viveu pseudos-milagres econômicos, uma nação de gente calorosa, de um exímio futebol, de políticos antiéticos sendo cozinhados na mesma panela dos políticos de devida moral ética e administrativa. É o Brasil que irá sediar a Copa e as Olimpíadas. É, de fato, o país do futuro como afirma o título da obra do Stefan Zweig.

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