“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

UM DIA SEREI...

Era uma manhãzinha rotineira, levada naquele habitual calor das intempéries sucessivas, naquele vai-e-vem de transeuntes enfadados antes mesmo do inícioquele vai-e-vem de transeuntes enfadados antes mesmo do in de um trabalho braçal. Uns passavam aceleradamente, alguns davam os devidos bons-dias, outros passavam no seu ar transcendental, e a maioria fingia serem adeptos da má educação. A cidade surgia num ar de ressaca, num ar de reinício. Estava eu a matar a saudade, olhando os camelôs a montarem suas ferramentas de trabalho, matando a saudade de andar a esmo, passando na Rua da Paz, descendo a 7 de Setembro, dirigindo-me ao trabalho totalmente desestimulante. Andava eu sem qualquer exemplar democrático às mãos, sem qualquer exemplar de uma romanesca literatura para deleitar-me, retratando sua inércia-época nesta correria de um século turbulento, e o que era pior, sem qualquer empatia ao Werther Goetheano.
Foi nessa manhãzinha (de segunda-feira) que decidi transformar-me num revolucionário, qual Che Guevara, qual Luther King, qual Mandela. Se não fosse o atraso salarial que me cingia trimensalmente, tal ideia não me seria viável, já que iria estar conformado com o dinheiro certo do fim do mês. Só faltava uma coisa: ter sequazes para fortificarem meu movimento. Não os tinha e resolvi constituir-me um revolucionário solitário, a fazer minhas reclamações por iniciativa própria. Fui assim percebendo que minhas atitudes não estavam surtindo efeito algum, fui percebendo que um revolucionário nunca é um revolucionário sem seguidores, sem um corpo unificado em robustez. Não deu certo, naquele momento, minha edificação militante. Vivo hoje anseios de uma rebeldia latente, esperando pingos que germinem uma revolução. Um dia irei fazer uma grande revolução. Haverá sequazes em demasia, haverá cartazes, não os mercenários que recebem cinquenta reais para ficar o dia inteiro segurando bandeiras, mas sim os adeptos da minha ideologia. Haverá quem busque ideologia e não a momentaneidade de um pacote de leite ou de uma cesta básica.
Viva os revolucionários! Viva o Che, viva o King, viva o Mandela, viva os sindicalistas exaltados, viva o movimento estudantil, viva os que são atores neste teatro mundial, viva os que não se deixam persuadir pelo benefício fugaz.

Um comentário:

  1. esse ai é massa esperando aquelas velhas notas de dinheiro sair do banco para satisfazer a sua alegria hem phelps?

    ResponderExcluir