“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pão e Circo

Assistir hoje pela manhã, assim que acordei, o filme Gladiador. Estas linhas que escreverei não têm como propósito dizer como foi todo o processo do filme, mas sim o de enaltecer um trecho que me chamou muita atenção. Este diz respeito a um diálogo entre dois senadores. Irei citar somente os trechos significativos nos quais os senadores dialogam sobre o imperador:
Senador I: acha que o povo será seduzido por isso?
Senador II: acho que ele sabe o que Roma é. Roma é a plebe.
Senador II: ele fará mágica para eles ficarem distraídos.
Senador II: irar tirar a liberdade deles, mas eles o exaltarão.
Esse trecho foi o que fez-me fincar novamente os pés no chão, fazendo com que me situe onde realmente me encontro – numa capital onde os líderes ainda lideram de forma prosaica como aconteceu na Roma de outrora, naquela Roma dos gladiadores, naquela Roma onde homens eram devorados por leões, e os leões ainda nos devoram, só que de forma metafórica, embutidos no sistema social.
Há demasiadas formas de política, as politicagens, e sei nomear a nossa: Política do Pão e Circo. Aquela da antiguidade clássica onde o povo, como salienta o diálogo supracitado, distraía-se com as mágicas criadas pelos poderosos, pelos mandões, esquecendo-se assim das devidas obrigações que a estes cabiam. Hoje a nossa política retrata em todos os aspectos essa política circense e de pão. Darei exemplos:
Não sou contra os shoppings, até porque os frequento de vez em quando, mas sou contra a construção consecutiva de vários shoppings enquanto a de hospitais e de escolas não há, enquanto a moralidade do sistema educacional é baixíssima. Mas eis aí uma das mágicas que distrai a população, ou seja, eis aí a distração da plebe, esquecendo-se esta das devidas reinvidicações, das passeatas, no que me diriam certamente: pra quê? Os shoppings nos acomodam e nos distraem.
Outra especificidade do Pão e Circo contemporâneo, além dos já citados shoppings, são os sucessivos shows que por aqui há. Repito como citei no que tange aos shoppings: não sou contra os shows, até porque os frequento de vez em quando. Mas sou contra ao total investimento que é dado aos shows enquanto, reiterando, à educação e saúde investimento nenhum há. E o que é o show senão mágicas para distração? “ele fará mágica para eles ficarem distraídos”. E o que é o povo senão um financiador direto de toda essa politicagem do Pão e Circo. Mesmo com o salário mínimo que se é recebido, como bagatela que é, há milhares que os desprezam na compra de ingressos de shows, esquecendo que a criminalidade está em abundância total devido à má-educação, devido à concentração de renda, tudo isso edificando os males e a cegueira circundante. Os “chefes” nos pagam, porém com a imediata utilização de artífices tomam-nos todo o dinheiro, gerando assim um ciclo virtuoso que os beneficiem. Eles pagam os devidos salários e se utilizam dos shoppings, dos shows, dos juros, arrancando de qualquer maneira o dízimo não ofertado. Abaixo está um trecho que tirei da internet a respeito da política do Pão e Circo:
“Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panem et circenses”,  a política do pão e circo.”
O que me dizem a respeito das migrações em demasia para a grande São Paulo? Será que também foi devido à essa escravização exorbitante, ou será que foi devido à não valorização trabalhística rural: “tanto trabalho sem a remuneração devida. Tanto trabalho sob o calorento sol na esperança de um salário ínfimo. Tanto trabalho longe às salas climatizadas e rente às residências feita a barro.
E hoje, quem sai às ruas exigindo melhores condições de vida? Quem faz reclamações à falta de saneamento, à falta de uma boa educação, à falta de hospitais. Não deixem os shows e os shoppings luxuosos taparem-nos os olhos, calarem nossa fome sedenta de um melhorismo adequado.
Uma notícia que me chocou bastante foi a de saber que o povo da baixada interiorana recebia pacotes de leite para votarem no candidato que as patrocinavam. Um pacote de leite? Somente um pacote de leite para uma família sem renda mensal? Apenas isso? Apenas isso caros leitores. É o pão que complementa o circo. É a barriga calcando a ideologia. É a política que nos envolvem os dias. É o povo que se abstém. É o individual que espera pelo outro. Um esperando pelo outro... Um esperando pelo outro...
 

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