“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

sexta-feira, 25 de março de 2011

O PREFEITO E SEU ASSESSOR

Um diálogo fictício com o intuito de explicitar o porquê da secretarias ao invés das autarquias de trânsito. Não que as intenções abaixos explicitadas seja de uso coletivo, resumindo-se somente a algumas personalidades.
Prefeito: - sabe Adalberto, andei pensando e de repente surgiu-me uma ideia que, se bem utilizada, irá trazer bons frutos nesse meu mandato, pois estou visando um pouquinho de lucro para a minha futura campanha, já que sabes muito bem que aspiro a governador.
Assessor: - e que ideia é essa Vossa Excelência?
Prefeito: - minha pretensão é utilizar o trânsito caótico desta cidade, assim como também os ensejos viabilizados pelos buracos, como motivo alavancador, ou seja, como o trânsito está dominado pelo mau humor, pela má pavimentação, pelos excessos de buracos, estou visando à quantidade de multas que isso pode acarretar. E multa é dinheiro Adalberto, entendeu? Você nem imagina o tanto de dinheiro que as multas rendem durante um ano. Há políticos e “auxiliares” que lucram bilhões instalando lombadas eletrônicas e radares fixos em locais que não necessitam desses tipos de aparelhos. Não que eu seja cambalacheiro Adalberto, mas é assim que funciona, assim que a banda toca. Sem dinheiro não há candidatura. Temos que fazer que nem os “coroneis” fazem, temos que manter nosso curral eleitoral e, sem dinheiro, não temos como amamentar os nossos famintos bezerrinhos. Troca de favores Adalberto. Um saco de leite a uma família na miséria equivale ao voto de todos os familiares.
Assessor: - entendi Doutor, mas ainda não temos nada relacionado a trânsito nesta cidade. Não temos agentes, nem nada que seja afim. Temos alguém para nos representar na Assembleia Legislativa? Sabe né Doutor, alguém para acelerar nosso processo, assim como para votar contra qualquer coisa que venha a nos servir como empecilho.
Prefeito: - é pra isso que estou aqui Adalberto, onde já se viu o Judiciário ou o Legislativo bancar o indiferente com o Executivo? Só na teoria mesmo Adalberto, só na Constituição que isso funciona. Aqui na realidade sou eu que mando, e conto com você para me ajudar na articulação de algumas ideias. Vamos lá, diga-me qual primeiro passo devo tomar? Ah, já sei. Irei criar uma autarquia de trânsito. É isso. Adalberto, comunique ao setor jurídico como devo proceder à criação de uma autarquia de trânsito.
Assessor: - mas Doutor...
Prefeito: - não retruque Adalberto, chame o Oswaldo e comunique-o, por obséquio!
Assessor: - Doutor, posso dar-lhe um palpite?
Prefeito: - ai ai... Diga lá Adalberto. Vamos lá, desembucha.
Assessor- se queres de fato ganhar dinheiro do contribuinte motorizado, acho que será de maior conveniência se houver a criação de uma secretaria de trânsito, porque...
Prefeito: - tá louco Adalberto, secretaria é algo pequeno. Eu quero algo grande, que me dê bastante lucro para a futura campanha. Autarquia já tá dizendo tudo. É poder Adalberto.
Assessor: - deixa eu lhe explicar Doutor. A autarquia, segundo a nossa Carta Magna, assim como o nosso Direito Administrativo, é criada por lei, possui personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.
Prefeito: - por isso mesmo Adalberto. Ouviu o que você disse?  Patrimônio e receita próprios. É tudo nosso.
Assessor: - irei clarear-lhe a ideia Doutor. Criando uma autarquia de trânsito não haverá lucro nenhum, pois o dinheiro arrecadado com as multas será destinado à própria autarquia, isto é, a gasolina que irá acelerar sua candidatura irá ficar nas mãos do diretor da autarquia que Vossa Excelência vier a criar. Crie a secretaria de trânsito, pois secretarias são órgãos, não possuem personalidade jurídica, o que faz com que o dinheiro venha todo para o município, isto é, para a sua mão Doutor. É factual Excelência. Crie uma secretaria municipal de trânsito e, logo após abra um concurso para agentes de trânsitos, para que possa haver subservientes lhe ajudando nas ruas.
Prefeito: - Puxa Adalberto, que brilhantíssima ideia. É isso mesmo Adalberto. É isso que irei fazer. Com os agentes nas ruas multando a população, hei de lucrar em demasia, sem contar as falcatruas das lombadas eletrônicas que iremos firmar com empresas interessadas no assunto. Comunique ao Oswaldo que iremos criar uma secretaria de trânsito. Chame-o aqui para sabermos como proceder. Eita que é desta vez que eu me elejo governador.
Caro leitor, na sua cidade há autarquias ou secretarias de trânsito?

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