“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

quinta-feira, 17 de março de 2011

A GENÉTICA DAS CLASSES, UMA QUESTÃO DE HEREDITARIEDADE

Assim como há a transmissão, por meio dos genes, de caracteres de pai para filho, atribuindo-lhe características hereditárias, assim mesmo houve uma transmissão de caracteres legados pela forma obsoleta com que o Brasil foi administrado há tempos, e hoje ainda há muitas disparidades sociais devido aos genes deixados pelo pai brasileiro: o Brasil - Império, não levando em conta o período colonial simplesmente pelo fato de tal período ser marcado pela dependência brasileira, o que inviabilizava a nação de caminhar sozinha.
Essa desigualdade de classes, de beneficiamento a determinados e pequenos grupos e de desprezo a outros provém desde a nossa independência, que representou tão somente o espírito conservador e centralizador de José Bonifácio, que entrou para história como o Patriarca da Independência, sendo que este era o principal conselheiro e ministro de dom Pedro. Aquele, segundo uma variante, conseguiu promover a emancipação do país mantendo o regime político - a monarquia – e o caráter agrário, latifundiário e escravocrata, o que favorecia os interesses da elite local. Eis aí o sêmen que deu origem, em partes, à toda essa desigualdade hoje em voga.
José Bonifácio de Andrada e Silva

De fato, tudo surgiu a partir das jogadas de interesses elaborados pela elite local, os fazendeiros, vulgos latifundiários que, nos dias atuais, ainda persistem devido ao malabarismo que é exercido na política. Foi daí que surgiram os partidos políticos, sendo os da direita liberal sempre beneficiados devido ao seu poderio econômico respaldado pelos grandes latifundiários, grandes interessados na manutenção do afastamento comunista ou socialista. Desde a época de Dom Pedro II, os da direita liberal, o então Partido Moderado, era beneficiado, já que lutava pelos interesses dos já citados fazendeiros.
Os que viam a distribuição igualitária de renda e a reforma agrária (o maior pesadelo dos latifundiários) como meios de melhoria social, eram reprimidos pela então Guarda Nacional criada pelo moderado da época, Diogo Feijó, dando assim patente de coronel aos grandes latifundiários, apagando os anseios de uma melhoria social, o que formalizou, segundo Alfredo Boulos Júnior a estrutura de poder das oligarquias agrárias – o coronelismo -, que se mantêm até hoje em algumas partes do país. Uma das mais típicas práticas dos “coronéis”, efetuado, exemplarmente, na baixada maranhense, é a formação dos currais eleitorais: aproveitando-se da miséria da população, os grandes latifundiários oferecem favores como roupa e emprego em troca do voto, o que contribui para a manutenção dessas elites no poder político.
Analisando agora a genética social brasileira no período republicano, há a constatação do que foi semeado no império, pondo assim rédeas na nação pequenos grupos que decidiam o caminho a ser traçado pelo Brasil: era a política do café-com-leite, revezando-se no poder oligarcas mineiros e paulistas, havendo exceções em que gaúchos entraram na cena política. Citar-lhos-ei algumas jogadas estratégicas feitas com o propósito benfazejo de enriquecimento, de lucro e de manutenção de poder: uma das jogadas importantes e que tinha como propósito a manutenção do poder, assim como o da elegibilidade, foi a elaborada pelo então presidente Campos Salles (1898-1902), intitulada política dos governadores onde havia o apoio por parte do presidente aos governadores estaduais (pessoas da elite), governadores estes que, após eleito, teriam que apoiar o presidente escolhido pelo eixo café-com-leite, possibilitando assim a candidatura da pessoa selecionada pelos oligarcas, daí vingando os interesses de particulares.

Todavia, a questão que enaltece a desvalorização por parte dos oligarcas do café-com-leite em relação à sociedade foi a política adotada pelo então presidente Rodrigues Alves (1902-1906), batizada de socialização das perdas, que, segundo uma variante, reduzia a taxa cambial sempre que o preço do produto caía no mercado internacional, desvalorizando assim a moeda e, com isso, possibilitando o lucro dos cafeicultores. Ou seja, a população pagava o beneficiamento da classe dominante.
E hoje, a população oprimida ainda paga para haver os lucros da cúpula? Lógico e fatidicamente que sim. De onde saiu o dinheiro para a reforma do Convento das Mercês avaliada em nove milhões e meio de dólares senão do dinheiro público, senão do dinheiro do contribuinte, para logo após ser doado ao Sarney, transgredindo dessa forma um dos princípios administrativos, o da indisponibilidade. E os latifundiários que sobreviveram a eras, ganhando terras por intermédio de falcatruas beneficiadas por políticos, como a grilagem, por exemplo, ocasionando o êxodo rural e a consequente utilização de locais não apropriados para a habitação, surgindo daí os desabamentos que, quando da chuva forte, matam muitas pessoas, surgindo daí as enchentes, o comércio informal, o crescimento desorganizado da sociedade, o aumentando das classes oprimidas.
Eis aí, em partes, um dos ensejamentos à tamanha diferenciação de classes, chegando mesmo à situação de uns se considerarem mais humanos do que outros, chegando ao ponto de não se reconhecerem como indivíduos de uma mesma unidade territorial, pois a desigualdade é tamanha que estereótipos daí são formados.

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