POR ANDERSON COSTA
O que já ficou estereotipado nas carnes e mentes de todo o mundo é o de que a escravização foi crucialmente tangida sobre o lombo dos negros africanos e de que seu findar deu-se tão somente com a promulgação da Lei Áurea. Todavia, a historiografia tradicional, assim como muitas outras coisas oriundas dos livros didáticos seguem rumos diferentes, isto é, diversificados se for levado em conta a constatação do que realmente ocorreu.
De fato, o que mais impressiona em relação a todo esse aglomerado de informações provenientes dos compêndios e alfarrábios é o de que “nem o Corão nem a Bíblia condenam a escravidão. Pelo contrário: por séculos, trechos dos textos sagrados foram usados para legitimar a prática, que foi um dos pilares econômicos das sociedades judaica, cristã e muçulmana”, assevera Guillaume Hervieux na revista História Viva nº 88.
Por muitos anos o processo de aprisionamento escravista era direcionado àqueles adversos no que concerne à riqueza, nobreza, cor, origem, entre outras características que funcionavam como legitimação escravista. Mas, com o transcorrer do tempo e da forma de pensar, sobretudo no que tange ao recrutamento de fieis, passou-se a ser submetido à escravidão aquele que não possuía uma fé específica, isto é, uma religião a seguir, levando em conta a inexistência de países laicos em ditos séculos. Em suma, tal requisito de liberdade era mais uma estratégia de enriquecimento de adeptos religiosos, o que aumentava a riqueza e, consequentemente, os poderes eclesiásticos.
Percebe-se então, e segundo Guillaume Hervieux, que “os textos sagrados podiam, porém, ser usados para justificar o pior”. Tal citação diz respeito ao mito bíblico de Canaã que diz serem condenados à escravidão os povos do continente por serem descendentes de Canaã que, de acordo com o livro do Gênesis, fora amaldiçoado por seu avô, Noé, a ser “o servo dos servos”.
Certamente, conforme descrito nos parágrafos acima, vê-se com clareza o quão a religião foi utilizada para justificar a escravização, sem contar as outras parcelas de culpa atribuídas aos outros setores.
E hoje, a quem é atribuída a parcela de culpa sobre a escravização contemporânea? Houve a abolição, mas o sistema persiste, embora embutidamente em vários pontos ecumênicos.
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