“Vivemos num mundo onde não fazemos o que queremos fazer, mas sim o que a convenção humana convencionou. Somos obrigados a fazer o que o Estado manda. Vivemos num mundo onde, se não temos nada somos marginalizados, somos olhados com olhares desprezantes, somos olhados de soslaio. Vivemos num mundo que, se temos algo, sobretudo monetário, somos babados, bajulados, estereotipados e, mormente, idolatrados” ANDERSON COSTA

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MARSHALL BERMAN, as aventuras da modernidade



por Anderson Costa

Paradoxismo, antítese e discrepâncias são alguns dos pressupostos da modernidade segundo Marshall Berman no seu livro intitulado “Tudo que é sólido se desmancha no ar, as aventuras da modernidade”. Sem sombras de dúvidas, a modernidade diverge, com a alcunha de progressista, do tradicional, rotulado como estático e/ou sem movimento.Segundo o autor supracitado, a partir da visão futurista de italianos defensores da modernidade, “tradição se iguala simplesmente à dócil escravidão, e modernidade, à liberdade”. Daí tira-se a conclusão contextual e, veemente por sinal, de que a modernidade nada mais é que o desagrilhoamento do que seja estagnado e fincado, ganhando a modernidade, por assim dizer, um caráter dinâmico, de movimento, de constante mudança, “desmanchando no ar tudo que é, ou era até então, sólido”. Um exemplo fatídico dessa dicotomia tradicional-modernidade diz respeito às definições que permeiam as conceituações sobre certo e errado, embaralhando-as e trazendo à tona complicações no que tange ao genuíno do que seja certo e do que seja errado, pondo-nos a todos, metaforicamente falando, à deriva, destituídos de firmes assoalhos e de conceitos universais.

Marshall faz referência crucial e consubstanciadora da modernidade ao falar no capitalismo como sua mola propulsora, da revolução burguesa como sua mãe criadora, assim como a interação do binômio homem-máquina, a velocidade que encurte as distâncias que outrora eram longas, a voraz globalização, interligadora das culturas, assim como, viabilizante de turvidões a respeito das identidades alheias, da unicidade, formadora do individualismo exacerbado e da concretude cognitiva.

Incontestavelmente, um dos principais pilares sustentadores da modernidade é a tecnologia, explicitada com vigor por Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, no seu poema Ode Triunfal:

À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! (...)
In Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986.

O que se pode concluir, talvez precipitadamente, é que, tudo que seja oriundo do capitalismo e que funcione para seu crescimento “salutar” forma as bases e alicerces sustentadores da modernidade, metamorfoseando as nuanças intrínsecas ao ser humano, como assevera Marshall: “somos seres sem espírito, sem coração, sem identidade sexual ou pessoal...” E eis que surge a oportuna pergunta: “viverá o capitalismo sem suas máquinas proporcionalizantes da produção imódica em prol da modernidade mercantilista? Conseguirá o homem viver sem os aparelhos celulares, computadores e afins? Indubitavelmente, não! Ou seja, ao passo em que a modernidade desagrilhoa do tradicional, concomitantemente encarcera a todos na prisão ideológica do progresso tecnológico, tornando-nos seres passivos e submissos às engrenagens da tecnologia.

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